© José Manuel Costa

Arquivo > Salário Máximo de Vera Mantero, 2014

Salário Máximo

de Vera Mantero, 2014

De uma conversa entre o Duque de Loulé e o Duque de Ávila, recentemente regressados à Câmara dos Pares (agora denominada Sala do Senado) a pedido (secreto) de vários grupos parlamentares, desesperados na procura de soluções para o país: Duque de Loulé: “Tenho estado aqui a observar a situação nacional recente e reparo que, ao pretenderem melhorar as condições de vida da população, os nossos jovens governantes pensam sobretudo que há que produzir mais, para gerar mais riqueza e haver um aumento daquilo a que agora eles chamam o PIB. Mas uma série de estudos absolutamente excelentes a que tive também acesso apontam para uma outra possibilidade, crucial para a melhoria das condições de vida: atacar a desigualdade. Atacando a desigualdade ataca-se mais eficientemente a pobreza do que simplesmente aumentando o tal do PIB (se estivermos num país desenvolvido e numa democracia ocidental, como é felizmente o nosso caso hoje em dia)”.

Duque de Ávila: “Compreendo perfeitamente o que diz, caro Duque, e parece que não é só em Portugal que as desigualdades sociais têm vindo a aumentar nas duas últimas décadas mas, segundo informações que consegui obter, o fenómeno atinge entre nós uma dimensão particularmente preocupante. Estive durante dias a ler os relatórios de um organismo que eles agora criaram chamado OCDE e fiquei plenamente convencido de que o actual aumento das desigualdades sociais deixa apenas uma saída a esta gente: a criação de políticas que permitam um crescimento equitativo! E que permitam uma maior qualidade de vida das populações no seu todo! Senão nunca se vão livrar desta pobreza, que já grassava no nosso tempo!...”.

Duque de Loulé: “Caríssimo Duque de Ávila, lamento informá-lo (se não o souber já) que esse tipo de políticas que menciona está nos antípodas dos programas de ajustamento que infelizmente vêm sendo aplicados nos últimos tempos neste nosso querido país... Aliás está nos antípodas do que o tal de FMI (outro organismo que parece que foi criado entretanto) tem vindo a tentar impor ao mundo em geral. E o que é mais estranho é que aquilo a que eles chamam União Europeia tem vindo a adoptar, com desarmante displicência, essas mesmas políticas! E com um zelo que supera o do próprio FMI!! Não estou a ver muitas hipóteses para isto...”.

Duque de Ávila: “Mas não haverá outra maneira de fazer as coisas? Porque raio é que eles resolvem precisamente adoptar as medidas que mais desigualdade provocam? Quem pensam estar a beneficiar?? Por mais voltas que dê à cabeça, estes políticos deste novo século são para mim incompreensíveis. É que está provado que não são só os mais desfavorecidos que sofrem com a desigualdade, é a sociedade como um todo que é prejudicada!! A desigualdade também prejudica os ricos!!

Duque de Loulé: “Pois, a verdade é que não páram de dar tiros nos próprios pés...”.

Ficha Artística

Concepção e interpretação
Vera Mantero

Luz
Aldeia da Luz

Som
Sérgio Henriques

Violoncelo
Ulrich Mitzlaff

Uma encomenda do Festival TODOS.

Cronologia

Estreia - 13 - 14 Setembro 2014, Festival TODOS/Assembleia da República, Lisboa/Portugal