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chãocéu (micro-peça 2)

de Vera Mantero, Henrique Furtado Vieira e João Bento, 2024

Há muitos materiais surgidos no processo de criação da peça O Susto é Um Mundo (2021) que ficaram por explorar e aprofundar, pontas soltas que não se chegaram a agarrar, por falta de tempo ou por não encontrarem o seu lugar no trabalho. Desde 2023 Vera Mantero iniciou um processo de criação de “micro-peças” feitas precisamente a partir da exploração e aprofundamento desses mesmos materiais, juntamente com intérpretes e colaboradores presentes nesse mesmo Susto, primeiro com Teresa Silva e Santiago Tricot em Um pequeno exercício de composição (2023) e agora com Henrique Furtado e João Bento em __chãocéu|.  

Na primeira dessas micro-peças, um dos elementos presentes na cenografia d’O Susto foi replicado, um anel de ferro de cerca de 2m de diâmetro, e os dois anéis, juntamente com as duas intérpretes, tornaram-se protagonistas centrais desse “... pequeno exercício” austero e praticamente silencioso de sincronia no tempo e geometria no espaço. Em __chãocéu| escolheu-se um outro elemento cenográfico vindo da peça O Susto, mas pouco utilizado nesta, e também aqui multiplicado, agora por três: um escadote. Em O Susto, o escadote surge porque se quis, simbolicamente falando, “tocar nos pés dos deuses”. Em __chão céu| tentou-se ver como seria isso de facto, como seria tocar nos pés dos deuses e segurar o céu, que está a cair, como todos sabemos. E, assim, os três corpos levitam agora ao alto, obrigando-nos a elevar o olhar. A acção desprende-se do chão, o mundo fica pequeno cá em baixo. Três anjos-pássaros deambulam sobre as nossas cabeças, deixando-nos na inquietação de saber se descerão e nos ajudarão a compreender o tumulto do plano rasante.

Figuras míticas e fantásticas várias vão surgindo (deusas e deuses, gárgulas, guerreiros e guerreiras…), intermediárias entre o cima e o baixo, praticando acções-tarefas-danças-sons, numa sequência de insólitas relações entre opostos. Novamente o espanto, o sonho, sempre o susto – e uma busca material do inconsciente. Se em O Susto as palavras proferidas pareciam materializar-se em jogos com os objectos cénicos, em __chãocéu| as palavras são já ressonâncias nos próprios corpos-objectos que, com a sua nudez, tentam formar uma outra linguagem nos entalhes de um metal aparentemente imaterial. Em baixo, observamos a agitação das criaturas, o ritmo alucinante, as coisas que, com a sua velocidade multicolorida, chocam umas nas outras, produzindo ruídos que são eles próprios substância, obstáculo.

O mundo continua a espantar, e a assustar, mas agora queremos escutá-lo a partir de uma interioridade que, desacreditada, talvez já não passe pelo humano. Em O Susto dizia-se: “O chão está quieto à minha espera desde que sou gente”. Talvez agora já não seja gente que espera tocar o chão, nem o chão esteja já quieto. Porventura é o céu que quer agora chão, e talvez seja o único a conseguir essa coexistência de opostos, já que nós cá em baixo não a temos conseguido.

Ficha Artística

Criação e Interpretação
Vera Mantero, Henrique Furtado Vieira, João Bento
 
Desenho de luz
Co-criação de Hugo Coelho e Miguel Cruz
 
Desenho de Som e Música Original
João Bento
 
Operação técnica de som
Rodrigo Martins

Textos
Excertos de "Morte e Democracia", ed. Relógio d'Água (2023), de José Gil
 
Produção Executiva e Difusão
João Albano / O Rumo do Fumo
 
Produção
O Rumo do Fumo
 
Co-produção
Teatro José Lúcio da Silva, La Caldera Barcelona
 
Residências Artísticas
Centro Musibéria, DeVIR CAPa, La Caldera Barcelona

Cronologia

14 de Novembro, Centro Cultural de Lagos, no âmbito do Festival Pedra Dura, Lagos
ESTREIA 8 de Novembro, Blackbox Plataforma de Criação Artística de Leiria, Leiria

20 - 22
Março
2025

chãocéu (micro-peça 2)

de Vera Mantero, Henrique Furtado Vieira e João Bento

La Caldera, Barcelona/Espanha

Quinta a sábado às 20h

No âmbito do Festival Dansa Metropolitana

26 - 30
Novembro
2025

chãocéu (micro-peça 2)

de Vera Mantero, Henrique Furtado Vieira e João Bento

Teatro São Luiz, Sala Mário Viegas, Lisboa

Quarta a sábado às 19h30, domingo às 16h